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Mindfulness Para o Dia a Dia

A prática de mindfulness pode modificar nosso cérebro?

Marcelo Demarzo

11/07/2018 04h00

Crédito: iStock

É extremamente interessante e motivador que as pesquisas demonstrem que existem múltiplas alterações cerebrais, positivas, que ocorrem a partir da prática diária e regular de mindfulness. Essas mudanças positivas são observadas nos testes de neuroimagem (como a ressonância magnética), exames que nos permitem observar a estrutura cerebral, a espessura das diversas partes, como também o cérebro em atividade e a conexão entre as diversas partes.

O mecanismo que explica essas alterações é a neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro se modificar e adaptar a tudo que fazemos regularmente, ou seja, nossos hábitos. Se esses hábitos forem saudáveis, como a meditação e o exercício físico, nosso cérebro se altera e consegue manter por mais tempo os benefícios dessas atividades regulares, inclusive facilitando a manutenção do hábito saudável.

As regiões do cérebro mais desenvolvidas por meio da prática de mindfulness e meditação seriam as relacionados à metacognição (região do córtex pré-frontal) e à interocepção (região da ínsula). A metacognição seria a capacidade de auto-observação, ou a habilidade de observarmos nosso próprio funcionamento mental em perspectiva, ou seja, como pensamos ou reagimos emocionalmente às situações do dia a dia.

A interocepção seria a possibilidade de termos mais consciência de nossas sensações corporais internas, como a frequência cardíaca e a respiração, e como essas sensações se modificam a partir de nossas experiências agradáveis ou desagradáveis, servindo como termômetro de nossa situação fisiológica e emocional. Uma melhor interocepção nos torna mais conscientes de nós mesmos e de como as diversas situações afetam a nossa saúde física e emocional.

As outras áreas cerebrais que comprovadamente são alteradas com a prática regular de mindfulness são aquelas relacionadas à memória (região do hipocampo), e à regulação das emoções (córtex cingulado, por exemplo).  A estimulação da memória, além do uso nas atividades do dia a dia, pode prevenir as perdas coginitivas relacionadas ao envelhecimento. A regulação das emoções nos permite discriminar melhor as emoções que estamos sentindo, e previne ações no piloto automático (reatividade), aumentando a nossa inteligência emocional.

Vamos praticar e modificar positivamente nosso cérebro?

Referência:

Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness. Palas Athena, 2015.

Para saber mais:

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação "Mindfulness" na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

 

Sobre o autor

Marcelo Demarzo é médico especialista em mindfulness (atenção plena), professor e pesquisador na área de medicina, saúde e bem-estar. Ministra cursos e palestras sobre estilo de vida mindful, bem-estar e saúde --expertise desenvolvida em 15 anos como professor e pesquisador em vários hospitais e universidades brasileiras (UNIFESP, USP, Hospital Israelita Albert Einstein) e internacionais (Universidade de Oxford, Universidade de Zaragoza, Harvard University). É autor de livros e estudos científicos relacionados ao tema de mindfulness e qualidade de vida e realiza dezenas de atendimentos individuais e em grupo para disseminar o conceito de mindful living (viver pleno e consciente). É coordenador da Especialização em Mindfulness da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

Sobre o blog

Dicas e reportagens sobre saúde e qualidade de vida, com foco em mindfulness e bem-estar. Um espaço interativo para conversarmos sobre como desenvolver um estilo de vida mais mindful (pleno e consciente), que irá ajudá-lo a lidar melhor com o estresse, algo tão comum na nossa vida atual.