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Mindfulness Para o Dia a Dia

A mente está sempre trabalhando: mindfulness ajuda a descansar de verdade

Marcelo Demarzo

20/03/2019 04h00

Crédito: iStock

O cérebro humano consome cerca de 25% do oxigênio e do sangue de todo nosso corpo. Isso ocorre devido à complexidade do funcionamento de nossa mente no dia a dia.

E por incrível que pareça, esse consumo de energia é similar quando resolvemos um problema de matemática de alta complexidade ou quando observamos o céu; e apenas diminui quando realmente a mente "não está fazendo nada", ou seja, quando a mente não tem um objetivo específico a atingir.

A explicação é que a mente está sempre trabalhando. E isso acontece muitas vezes mesmo quando não se tem uma tarefa específica a desempenhar, pois é comum que mesmo nessas situações a mente acabe se enredando em um "discurso interno" por longos períodos, fazendo comentários sobre os acontecimentos que vivenciamos em "nosso mundo", frequentemente sobre nós mesmos e nossas expectativas frente à realidade. É o que se chama "diálogo interno".

Para experimentar o "diálogo interno", podemos simplesmente fechar os olhos, e então não serão necessários mais do que alguns segundos para começarmos a divagar, criando e gerando pensamentos sobre nós mesmos e nossas expectativas.

Inicialmente aparecerão avaliações sobre o que você estiver fazendo no momento ("Isto é um absurdo, para que fechar os olhos?"), mas em poucos segundos surgirá o discurso habitual que temos conosco mesmos sobre as coisas que nos preocupam ("Para onde vou no final de semana?", "Não suporto meu chefe", "Por que fulano(a) está brava comigo se não lhe fiz nada?", etc., etc.. etc.).

Esse diálogo interno costuma ativar o que a neurociência tem chamado de "Default Mode Network" (DMN – Rede Neural em Modo Padrão), rede que se ativa quando estamos no "modo piloto automático" mental, e que nos consome bastante energia (oxigênio e fluxo sanguíneo).

Por outro lado, a ciência tem nos mostrado que pessoas que praticam regularmente mindfulness ou outras formas de meditação por meses ou anos,ativam menos essa área cerebral (DMN), pois o discurso ou "diálogo interno" sobre si mesmo é menos disparado, e a mente se focalizava mais espontaneamente na tarefa específica daquele momento ou nas sensações corporais e sensoriais, com menos verbalizações internas.

Em outras palavras, a mente não está sempre trabalhando para essas pessoas, e podem "descansar" quando não fazem nada específico.

Vamos praticar?

Referência:

Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação. Editora Palas Athena, 2015.

Para saber mais sobre mindfulness:

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação "Mindfulness" na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

 

Sobre o autor

Marcelo Demarzo é médico especialista em mindfulness (atenção plena), professor e pesquisador na área de medicina, saúde e bem-estar. Ministra cursos e palestras sobre estilo de vida mindful, bem-estar e saúde --expertise desenvolvida em 15 anos como professor e pesquisador em vários hospitais e universidades brasileiras (UNIFESP, USP, Hospital Israelita Albert Einstein) e internacionais (Universidade de Oxford, Universidade de Zaragoza, Harvard University). É autor de livros e estudos científicos relacionados ao tema de mindfulness e qualidade de vida e realiza dezenas de atendimentos individuais e em grupo para disseminar o conceito de mindful living (viver pleno e consciente). É coordenador da Especialização em Mindfulness da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

Sobre o blog

Dicas e reportagens sobre saúde e qualidade de vida, com foco em mindfulness e bem-estar. Um espaço interativo para conversarmos sobre como desenvolver um estilo de vida mais mindful (pleno e consciente), que irá ajudá-lo a lidar melhor com o estresse, algo tão comum na nossa vida atual.