Mindfulness e o poder de observarmos a nós mesmos
Marcelo Demarzo
31/10/2018 04h00
Crédito: iStock
A metacognição ("observação de si mesmo") não é algo habitual e descreve a capacidade de reconhecer o próprio estado mental (pensamentos, ideias e interpretações, e sentimentos e emoções associadas), lidando com o mesmo adequadamente.
Pessoas com uma boa consciência metacognitiva podem observar seus pensamentos e emoções como eventos mentais passageiros ou transitórios, em vez de vê-los como verdades absolutas. Isso tem repercussões muito importantes para a nossa saúde mental.
A metacognição é o oposto do que ocorre em certas patologias mentais, como a depressão, em que as pessoas tendem a "ficar agarradas" ao conteúdo negativo de seus pensamentos e emoções, e é considerada um dos mecanismos básicos para entender a efetividade de mindfulness (atenção plena – conheça mais clicando aqui). Já houve dúvidas sobre se a metacognição e mindfulness eram a mesma coisa, mas hoje eles são considerados sequenciais, ou seja, eu desenvolvo a metacognição a partir da prática de mindfulness.
Uma das bases principais dos exercícios de mindfulness é poder observar os pensamentos e deixá-los passar, e esse treinamento é possível a partir da ideia de "âncora", ou seja, um ponto de apoio da atenção, por exemplo, a respiração. Assim, se a mente "divagar em pensamentos", o praticante pode perceber e voltar com o apoio da "âncora". Esse distanciamento em relação aos conteúdos mentais permite ao sujeito reconhecer a transitoriedade do próprio pensamento, levar em conta outras perspectivas e poder tomar decisões mais conscientes e menos reativas.
Assim, o processo de metacognição dá um papel ativo ao praticante de mindfulness, podendo ser protagonista na percepção e construção da realidade que está vivendo. Esse treinamento é o eixo central dos programas de mindfulness e está intimamente relacionado ao aumento da sensação de bem-estar e à redução dos sintomas ansiosos e depressivos, evitando a "ruminação" mental (pensamentos repetitivos e autodepreciativos).
Vamos praticar?
CONVITE: Apoie a implementação de "Mindfulness (Atenção Plena) como Política Pública na Saúde e Educação" no Brasil. Clique aqui e apoie essa ideia legislativa para ser debatida pelo Senado Brasileiro.
Referência:
Garcia-Campayo & Demarzo. ¿Que sabemos de Mindfulness? Kairós Editorial, 2018.
Para saber mais:
www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)
www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)
www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação "Mindfulness" na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)
Sobre o autor
Marcelo Demarzo é médico especialista em mindfulness (atenção plena), professor e pesquisador na área de medicina, saúde e bem-estar. Ministra cursos e palestras sobre estilo de vida mindful, bem-estar e saúde --expertise desenvolvida em 15 anos como professor e pesquisador em vários hospitais e universidades brasileiras (UNIFESP, USP, Hospital Israelita Albert Einstein) e internacionais (Universidade de Oxford, Universidade de Zaragoza, Harvard University). É autor de livros e estudos científicos relacionados ao tema de mindfulness e qualidade de vida e realiza dezenas de atendimentos individuais e em grupo para disseminar o conceito de mindful living (viver pleno e consciente). É coordenador da Especialização em Mindfulness da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).
Sobre o blog
Dicas e reportagens sobre saúde e qualidade de vida, com foco em mindfulness e bem-estar. Um espaço interativo para conversarmos sobre como desenvolver um estilo de vida mais mindful (pleno e consciente), que irá ajudá-lo a lidar melhor com o estresse, algo tão comum na nossa vida atual.