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Mindfulness nos ajuda a regular as emoções; mas o que é isso afinal?

Marcelo Demarzo

10/04/2019 04h00

Crédito: iStock

A regulação das emoções é um dos fenômenos produzidos pela prática regular da atenção plena (mindfulness) que mais geram mudanças na vida de uma pessoa.

Ao invés de sucumbir e ser tomado pelas emoções, o praticante de mindfulness é capaz de identificá-las, observá-las e aceitar que existam, o que envolve a validação das emoções, sobretudo as negativas.

Não se nega as emoções, mas se experimenta, e a ideia é não reagir de modo automático a elas (o que é mais habitual), mas poder decidir conscientemente como agir a partir das emoções presentes.

Como podemos ver, é algo um pouco diferente da ideia pré-concebida de que os praticantes de mindfulness ou meditação não teriam emoções. O que os estudos indicam, e, claro, a experiência prática, é que os meditadores percebem as emoções com a mesma intensidade que os indivíduos que não meditam, porém com algumas diferenças:

– Não reagem a elas de maneira imediata e inconsciente, mas, pelo contrário, podem processar as emoções de modo voluntário e consciente;

– Não permanecem tomados pelas emoções por minutos ou horas. Pelo contrário, têm a capacidade de em pouco tempo poderem focar a atenção em outro objeto ou atividade, o que nos permite uma melhor gestão do tempo no dia a dia.

Mas como desenvolver a regulação das emoções por meio da prática de mindfulness?

Isso implica na prática diária e regular dos exercícios de mindfulness, e tem vários mecanismos, que atuam de forma progressiva e sinérgica. Os principais são:

Identificação dos conteúdos mentais

Nas fases um pouco mais avançadas do treinamento de mindfulness (por exemplo, com a continuidade da prática com foco na respiração), quando a nossa atenção perde o objeto de ancoragem (respiração) devido ao surgimento de fenômenos mentais (distrações e divagações), recomenda-se rotular o fenômeno que emergiu, nomeando-o, por exemplo, como: "sensação auditiva", "pensamento sobre o futuro", "planejamento", "emoção de raiva", etc..

As emoções são o fenômeno mental ao qual mais nos apegamos ("grudamos") e o mais difícil de nomear. Assim, a prática de rotular (ou "etiquetar") os conteúdos mentais nos permite nomear a emoção com mais exatidão ao longo do tempo.

Ausência de Julgamento e Aceitação

"Rotular", "nomear", ou "etiquetar" em mindfulness significa identificar o tipo de conteúdo mental que surgiu, atribuindo-lhe um nome, mas em hipótese nenhuma implica em emitir um juízo de valor, do tipo agradável/desagradável, ou gosto/não gosto. Porque, nesse caso, voltaríamos ao nosso modo habitual mental do dia a dia, que seria se apegar ao agradável, ou tentar se livrar do desagradável.

Ou seja, "rotular" seria apenas reconhecer, perceber o conteúdo mental (neste caso, a emoção) sem um juízo de valor ou julgamento. Quando não julgamos as emoções que estão presentes, elas não se tornam nem boas nem más, portanto é menos desafiador aceitá-las.

Ao aceitarmos a emoção que sentimos (por mais "negativa" que seja), não precisamos mais fugir dela nem a negar; em vez disso, a validamos e experimentamos completamente. Parece contra-intuitivo, mas evitar o que consideramos negativo é o que se denomina de "evitação experiencial", o que acaba aumentando a reatividade àquela emoção, muitas vezes de maneira inconsciente ou "automática", gerando mais percepção de estresse ou sofrimento.

Assim, ao validarmos e discriminarmos melhor nossas próprias emoções, vamos para o lado oposto, que seria o manejo consciente das mesmas. Agiremos, então, do modo que considerarmos mais oportuno, não como uma consequência direta ou automática da emoção, mas como um processo de reflexão consciente.

Vamos praticar?

Referência:

Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação. Editora Palas Athena, 2015.

Para saber mais sobre mindfulness:

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação "Mindfulness" na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

 

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Sobre o autor

Marcelo Demarzo é médico especialista em mindfulness (atenção plena), professor e pesquisador na área de medicina, saúde e bem-estar. Ministra cursos e palestras sobre estilo de vida mindful, bem-estar e saúde --expertise desenvolvida em 15 anos como professor e pesquisador em vários hospitais e universidades brasileiras (UNIFESP, USP, Hospital Israelita Albert Einstein) e internacionais (Universidade de Oxford, Universidade de Zaragoza, Harvard University). É autor de livros e estudos científicos relacionados ao tema de mindfulness e qualidade de vida e realiza dezenas de atendimentos individuais e em grupo para disseminar o conceito de mindful living (viver pleno e consciente). É coordenador da Especialização em Mindfulness da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

Sobre o blog

Dicas e reportagens sobre saúde e qualidade de vida, com foco em mindfulness e bem-estar. Um espaço interativo para conversarmos sobre como desenvolver um estilo de vida mais mindful (pleno e consciente), que irá ajudá-lo a lidar melhor com o estresse, algo tão comum na nossa vida atual.