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O que são emoções e como elas podem impactar no dia a dia

Marcelo Demarzo

01/05/2019 04h00

Crédito: iStock

A psicologia define as emoções como uma ampla gama de fenômenos, que incluem "sentimentos", "pensamentos", "sensações corporais", e "tendência a agir" (impulsos), que surgem quando entramos em contato com as situações de nosso dia a dia. Ou seja, as emoções são um tipo de "linguagem" (mental e corporal) que nos permite "ler" e mediar os acontecimentos em nossa vida.

Usemos como exemplo uma emoção de raiva após sermos insultados por alguém com quem temos um conflito, ou simplesmente por alguém nos buzinar no trânsito. O sentimento é de raiva, o pensamento pode ser de crítica à outra pessoa, a tendência a agir (certamente reprimida) consiste em agredir (verbal ou fisicamente) o outro, e as sensações incluiriam tensão muscular, palpitações e os sintomas próprios de um acesso de raiva.

Embora estes quatro elementos estejam presentes, o fenômeno mais visível e que identificamos mais claramente é o sentimento.

Entre os diversos fenômenos mentais e corporais que exploramos em mindfulness (sensações, pensamentos e emoções), sem dúvida as emoções constituem o fenômeno (mental e corporal) que mais nos absorve e com o qual mais nos identificamos (ficamos "grudados").

As emoções se destacam frente aos outros elementos devido a duas razões principais:

1– Possuem um significado pessoal (já que se estruturam com base na imagem que temos de nós mesmos, de nosso "eu");

2– Surgem no contexto relacional (a maioria é produzida por aquilo que os outros dizem ou pensam de nós ou por aquilo que pensamos que os outros pensam ou sentem a nosso respeito).

Como as emoções interferem na nossa interpretação das situações do dia a dia?

Continuamente recebemos milhões de dados do ambiente externo, no entanto só conseguimos processar uma pequena parte, aqueles dados aos quais dedicamos nossa atenção. Conforme a citação clássica de William James, um dos pais da psicologia, "Minha experiência é aquilo a que decido prestar atenção".

A partir dessa perspectiva, um dos problemas é que as emoções desviam nossa atenção aos estímulos que lhes são próprios. Por exemplo, a ansiedade produz um viés psicológico de modo que prestamos mais atenção aos estímulos ansiosos, o qual perpetua o ciclo.

Por exemplo, vamos imaginar que desenvolvemos por alguma razão uma emoção de desespero ou desesperança; qualquer acontecimento que nos ocorra, mesmo que normal (como não ser aceito em uma entrevista de trabalho) será distorcido cognitivamente por nossa mente e interpretado como mais uma razão para desesperar-se ("Sou um inútil, nunca conseguirei trabalho").

O estado "metacognitivo" (de autopercepção) que desenvolvemos com a prática regular de mindfulness pode moderar esses conteúdos mentais angustiantes (e que desviam nossa atenção) mediante o "descentramento", ou seja, a ausência de apego a nossas emoções e pensamentos (ficamos menos "grudados"), podendo nos "centrar" intencionalmente (mesmo que por alguns instantes) apenas no próprio corpo (por exemplo na respiração).

Assim, a prática regular da atenção plena pode nos ajudar a entender e regular melhor nossas emoções (veja aqui um texto recente sobre esse tema, para aprofundamento).

Vamos praticar?

Um convite: Quer saber mais sobre a ciência por trás de mindfulness? Venha participar do VI International Meeting on Mindfulness (São Paulo, 12-15 de junho de 2019): www.mindfulnessmeeting.com

Referência:

Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação. Editora Palas Athena, 2015.

Para saber mais sobre mindfulness:

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação "Mindfulness" na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

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Sobre o autor

Marcelo Demarzo é médico especialista em mindfulness (atenção plena), professor e pesquisador na área de medicina, saúde e bem-estar. Ministra cursos e palestras sobre estilo de vida mindful, bem-estar e saúde --expertise desenvolvida em 15 anos como professor e pesquisador em vários hospitais e universidades brasileiras (UNIFESP, USP, Hospital Israelita Albert Einstein) e internacionais (Universidade de Oxford, Universidade de Zaragoza, Harvard University). É autor de livros e estudos científicos relacionados ao tema de mindfulness e qualidade de vida e realiza dezenas de atendimentos individuais e em grupo para disseminar o conceito de mindful living (viver pleno e consciente). É coordenador da Especialização em Mindfulness da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

Sobre o blog

Dicas e reportagens sobre saúde e qualidade de vida, com foco em mindfulness e bem-estar. Um espaço interativo para conversarmos sobre como desenvolver um estilo de vida mais mindful (pleno e consciente), que irá ajudá-lo a lidar melhor com o estresse, algo tão comum na nossa vida atual.