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Mindfulness em tempos de coronavírus: quarentena não é sinônimo de solidão

Marcelo Demarzo

01/04/2020 09h53

iStock

Nesses tempos de Coronavírus algumas novas palavras têm entrado diariamente em nosso vocabulário, e algumas delas podem gerar confusão, e até pânico, desnecessariamente. Dois exemplos são "quarentena" e "isolamento". Mindfulness (atenção plena) pode nos ajudar a entendermos a diferença entre elas, e a prevenirmos o sentimento de solidão.

"Quarentena" se refere à separação de pessoas (ou comunidades) que foram (ou podem ser) potencialmente expostas a uma determinada doença infecciosa (mas não estão doentes), para que evitemos a propagação da doença ou do agente infeccioso (do coronavírus, por exemplo).

"Isolamento", ao contrário, se aplica à separação de pessoas que sabidamente estão infectadas ou doentes.

As duas situações geram distanciamento social (de pessoas ou comunidades), e eventualmente "solidão", mas por motivos diferentes. Porém, no dia a dia, as duas palavras acabam sendo usadas como sinônimos, e aí vem a confusão, e muitas vezes o "pânico".

O eventual "pânico" (social) acaba ocorrendo quando eventualmente temos contato com outras pessoas em "quarentena", pois imediatamente (de maneira "automática") nossa "mente" interpreta que estamos sendo infectados e ficaremos "doentes", confundindo "quarentena" com "isolamento".

Confusões à parte, do ponto de vista psicológico, as duas situações podem trazer sofrimento ou mal-estar, incluindo sintomas aumentados de ansiedade e depressão, confusão mental, aumento de emoções negativas como a raiva, e aumento do sentimento de "solidão". Esses sintomas podem se tornar mais intensos quanto maior o tempo de duração da quarentena.

Os efeitos podem ser mais negativos em pessoas acima de 65 anos, sabidamente em maior risco para a covid-19, já que o isolamento social pode trazer ainda mais desconexão social e o agravamento de problemas como depressão, ansiedade, doenças cardiovasculares, autoimunes e da saúde mental em geral.

A "solidão" pode ocorrer, em especial, nas pessoas que vivem longe de seus familiares e amigos, moram sozinhas, que sejam solteiras (sem cônjuges) e que não participem de grupos sociais ou atividades religiosas.

Como mindfulness pode ajudar no sentimento de solidão?

Como já sabemos, não podemos solucionar a "solidão" apenas colocando pessoas juntas numa sala (ainda mais em tempos de coronavírus, quando o distanciamento social muitas vezes é necessário), já que a "solidão" não é definida por estar sozinho, mas por "se sentir sozinho".

Nesse sentido, a prática de mindfulness está mais ligada ao fortalecimento de "fatores individuais" que possam nos ajudar a lidar com o isolamento, sem necessariamente nos sentirmos "sós".

Assim, a atenção plena nos ajuda no desenvolvimento de habilidades pessoais (recursos internos) para uma melhor perspectiva subjetiva frente ao sentimento de solidão, evitando os sentimentos e emoções negativas comuns nessas situações.

Ao promover uma perspectiva mais saudável frente aos sentimentos de solidão e desconexão social, como os que estamos vivendo agora, o treinamento de atenção plena permite que a sensação de solidão se amenize, sem afetar nossa saúde física e mental, ou seja, podemos nos sentir mais à vontade conosco mesmos nesses tempos difíceis.

Também cria condições psicológicas mais adequadas para um maior envolvimento com os outros na vida cotidiana, prevenindo problemas de relacionamento que também são comuns nessas situações de confinamento; valendo tanto para os familiares que estejamos convivendo em quarentena, quanto para os contatos à distância, via redes sociais, por exemplo.

Vamos praticar? Nesse link você encontrará uma playlist na forma de curso introdutório de mindfulness, com práticas simples e acessíveis a qualquer iniciante.

Mande sua pergunta: Se você tem alguma dúvida ou curiosidade sobre mindfulness, atenção plena, ou neurociência do comportamento, por favor me escreva que terei prazer em abordar seu tema em textos futuros: demarzo@unifesp.br

Referência:

Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação. Editora Palas Athena, 2015.

Para Saber Mais:

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação "Mindfulness" na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

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Sobre o autor

Marcelo Demarzo é médico especialista em mindfulness (atenção plena), professor e pesquisador na área de medicina, saúde e bem-estar. Ministra cursos e palestras sobre estilo de vida mindful, bem-estar e saúde --expertise desenvolvida em 15 anos como professor e pesquisador em vários hospitais e universidades brasileiras (UNIFESP, USP, Hospital Israelita Albert Einstein) e internacionais (Universidade de Oxford, Universidade de Zaragoza, Harvard University). É autor de livros e estudos científicos relacionados ao tema de mindfulness e qualidade de vida e realiza dezenas de atendimentos individuais e em grupo para disseminar o conceito de mindful living (viver pleno e consciente). É coordenador da Especialização em Mindfulness da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

Sobre o blog

Dicas e reportagens sobre saúde e qualidade de vida, com foco em mindfulness e bem-estar. Um espaço interativo para conversarmos sobre como desenvolver um estilo de vida mais mindful (pleno e consciente), que irá ajudá-lo a lidar melhor com o estresse, algo tão comum na nossa vida atual.