Meditar é deixar a “mente em branco”?
Nem sempre meditar significa deixar a mente em branco. Em especial nas técnicas de mindfulness (atenção plena) a reposta é "não". Explico o porquê:
Ao praticarmos mindfulness, como já comentei em outros posts, não devemos ter nenhuma expectativa especial, e entre elas está uma das expectativas mais comuns, a de "deixar a mente em branco" ("não ter pensamentos").
Um dos problemas dessa "falsa" expectativa é que muitas vezes as pessoas deixam a prática de mindfulness porque não atingem a tal "mente em branco", e acabam não se beneficiando das técnicas.
A questão é que a mente sempre produzirá pensamentos, faz parte da natureza da mente produzir pensamentos, e não há problema nenhum nesse fato em si. O que na verdade a prática de mindfulness nos ajuda é criar a habilidade de nos tornarmos mais consciente do processo do pensamento e das emoções (é diferente de deixar de pensar ou de sentir).
Assim, durante as meditações do tipo mindfulness, não há o objetivo de "limpar" os pensamentos, mas sim, de manejá-los de outra perspectiva. Durante as técnicas em si, o que faremos efetivamente é observar que a mente se distraiu em pensamentos, e poder voltar à percepção do corpo, ou seja, os pensamentos fazem parte do exercício (veja o passo a passo de uma prática de mindfulness clicando aqui).
É libertador saber que mesmo entre aqueles que praticam mindfulness há bastante tempo é frequente que a mente possa divagar ao surgir alguma distração, pensamento, sentimento ou preocupação. Como expliquei, nessas situações, toma-se consciência de que a mente está dispersa e, com gentileza (a gentileza aqui é muito importante, senão caímos na autocrítica), deixar que as distrações passem, sem se irritar, sem julgá-las ou rejeitá-las e, lentamente, volta-se a atenção para o corpo, por exemplo, à respiração.
Assim, é uma ideia errônea pensar que quando nos distraímos perdemos mindfulness. De fato, o momento mais importante da meditação é quando nos damos conta de que a mente abandonou seu objeto e fazemos com que volte a ele, o que precisamente é um momento "mindful" ou de atenção plena.
A repetição contínua desse processo é o que permitirá desenvolver o que chamamos de "eu observador", ou seja, a habilidade de não nos identificarmos com pensamentos e emoções, prevenindo a "ruminação mental" (saiba mais, clicando aqui) e a impulsividade, podendo então tomar decisões mais conscientes e efetivas, um dos principais benefícios de mindfulness.
Assim, o indivíduo que pratica mindfulness regularmente pode perceber os fenômenos mentais de modo mais objetivo e sem apego. Por exemplo, ao sentir que a raiva vai surgir, observa como aparece esse sentimento. Pode observar como surgem as emoções, identificar o tipo de emoção e os efeitos que produz no corpo e na mente.
Vamos praticar?
REFERÊNCIA:
Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação. Editora Palas Athena, 2015.
PARA SABER MAIS SOBRE MINDFULNESS
www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)
www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)
www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação "Mindfulness" na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)
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